Saudemos aqueles que amam demais.
Que se desperdiçam pelas esquinas transpirando paixão.
São nobres os que não fazem contas na hora de amar.
Que não puxam o extrato para verificar o saldo
e saber se mais amou ou se mais foi amado.
Se mais recebeu ou se mais foi doado.
Bem aventurados os despudorados.
Aqueles que exibem seus corpos deliciosamente.
Que não escondem a pele, a barriga, os pelos,
as marcas colecionadas ao longo da vida.
Que não sentem vergonha de tudo
aquilo que nos torna humanos.
Parabéns aos otimistas.
Os generosos que enxergam o melhor
na natureza do outro.
Aqueles que miram o charme ao invés do defeito.
Saudações aos que desprezam a soberba.
Que não se crêem os mais belos dos belos.
Os que não estão com o copo totalmente cheio.
Que não perdem a capacidade de regozijar
por alguém que habita além de seu espelho.
Graças aos desmoralizados.
Aos que queimam na inquisição social por
não aceitarem o controle, o pragmatismo,
a moral e as normas de conduta.
Felicitações aos fodidos de tanta paixão.
Que se abrem feito mala velha e se arriscam em
nome do amor, já que há tempos prevalece
a ferrugem nos sorrisos e nem os santos
tem ao certo a medida da maldade.
Dedico um cálice de saliva aos que não se
perdem em nojos tolos.
Os que olham no fundo dos olhos e vão no fundo
do corpo, no fundo da alma e transbordam.
No mundo da auto-ajuda, premiemos
aqueles que se ajudam mutuamente.
Na era do consumismo, felizes daqueles
que preferem as pessoas às mercadorias,
ainda que homens e mulheres
não tenham garantia contra defeitos originais.
Se acaso for verdade que chegamos ao fim da história,
preservemos os seres humanos que ainda mantém
um acréscimo de desejo e se renovam em
novas e velhas histórias de amor.
Rafael Castilho
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